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O nosso futuro precisa ser Queer.

  • Tomás Trevisan
  • 16 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Escrevo aqui não para o público LGBTQ ou para o público hétero cisgênero. Escrevo aqui sobre humanos. Escrevo aqui sobre mulheres transgêneras e mulheres cisgêneras, sobre homens transgêneros e homens cisgêneros. Escrevo aqui sobre aqueles que não se enquadram nesses padrões, impostos pelos próprios humanos e que excluem seres humanos.


Escrevo aqui sobre seres que transitam suas existências entre os polos "homem" e "mulher", ou que não se conformam com esses limites e vivem sem nenhum enquadramento. Para além de uma escrita sobre identidades de gênero, escrevo sobre identidades sexuais. Então, este texto é para você que quer ter mais incertezas do que certezas. Para você que não quer se acomodar e busca informação para transcender a sua noção de ser humano.


De fato, quero propor uma nova visão a toda população que se prende a limitação social que apenas remete gênero a construção baseada em homem e mulher. Hoje, meu papel é levar informação a quem possa interessar e quando isto ocorre cabe a você usá-la para sua evolução intelectual


Um breve entender sobre binaridade de gênero e suas teorias .


O mundo está em constante evolução, já não deveríamos ter evoluído em questão de ainda nos definirmos usando a binaridade homem versus mulher?


A binaridade de gênero é presente em quase todos os aspectos da nossa sociedade, para a lei você não existe se não for homem ou mulher, para o social patriarcal onde o homem masculino é visto como exemplo a ser seguido tudo que não usa desta regra é inferiorizado e invisibilizado. O exemplo mais claro desta conduta imposta surge logo quando falamos em gênero, pontualmente nós entendemos gênero como homem e mulher e colocamos ali toda a ideia que consiste ao homem o masculino e a mulher o feminino, e é isto que classificamos como gêneros binários, mas este apontamento lido como verdade é de fato?


Contra essa corrente existe o não-binarismo e a teoria Queer. O não-binarismo não é um gênero, ou dois, mas o termo utilizado para definir em um só mais de 31 tipos de gêneros até então conhecidos e reconhecidos. Se nós sabemos que gênero binário consiste no que é lido socialmente como homem e mulher o que seria então o não-binarismo? O não-binarismo é o tudo e o nada, é você poder existir em sua mais particular essência, é você poder utilizar do masculino e do feminino sem precisar ser homem ou mulher, é acreditar que não existe um muro que separe nossa existência, é você poder ser o que quiser ser. A teoria Queer caracteriza-se pela ideia de que o papel dos homens e mulheres modernos é uma junção de fatores impostos pela sociedade, que a ideia do que é ser masculino e ser feminino é uma construção que utiliza de uma estrutura social machista e patriarcal para se estabelecer. Originada a partir de estudos sobre a homossexualidade e estudos feministas estadunidenses que buscavam a desconstrução de papéis lidos como “de homem” e “de mulher”, de maneira social, a teoria queer começou a se estabelecer por volta de 1980.


O ensaio “Sex And Temperament In Three Primitive Societies”, de 1935, da antropóloga Margaret Mead, que teve forte influência para a teoria Queer, já questionava a diferenciação entre personagens “femininos” e “masculinos”, documentando culturas em que homens e mulheres dividiam entre si práticas consideradas, ocidentalmente, exclusivamente masculinas ou femininas, como a guerra e tarefas domésticas. Nós podemos, resumidamente, entender o não-binarismo como a união existencial de toda particularidade sexual e de gênero humano, entender a teoria Queer como o movimento que questiona o papel social que nos força a formar a diferenciação entre masculino e feminino, homem versus mulher. Em comum, o não-binarismo e a teoria Queer buscam em sua estrutura criar um mundo evoluído onde não exista diferenciação, onde todos possam ser apenas humanos, indiferente do “natural ou “não-natural” exalado pelo binarismo que nos cerca.


Como mulher transgênera sempre me senti socialmente forçada, tanto pela sociedade heteronormativa cisgênera quanto pelo movimento LGBTQ a exalar feminilidade, mas esse nunca foi meu objetivo como mulher, nunca acreditei que nome, aparência, personalidade e a maneira que você leva sua vida determine o ser. É preciso mostrar às pessoas que transgeneridade vai muito além de querer se “encaixar” no gênero oposto ao que me foi designado ao nascer, que ser homem e ser mulher vai muito além do que se tem como certeza, mostrar que já estamos além do que é definido como gênero, além do que é definido como ser “homem” ou ser “mulher”, desmistificar o que é ser, pensar e viver como transgênero não esquecendo de que transgeneridade faz parte de um conjunto chamado LGBTQ.


E é esta sabedoria coletiva, focar em algo que precisa de atenção sem ofuscar os que estão no conjunto que me cerca, que também me fez escrever aqui hoje. Acredito que muitas pessoas compartilham do mesmo pensamento que eu, por isso falo com propriedade quando digo que juntos podemos nos empenhar em esclarecer qualquer dúvida referente as diversas facetas e caminhos do ser LGBTQ. Nossas vozes, juntas, ecoam, nossa sociedade verá que somos mais fortes do que eles pensam e quando uma minoria tem poder, isso incomoda esta sociedade extremamente padronizada, heteronormativa, cisgênera, machista, patriarcal e atrasada, incomodá-los me faz diferente deles e isto só serve para mostrar que eu estou no caminho certo.


O mundo está em constante evolução, já não deveríamos ter evoluído em questão de ainda nos definirmos usando a binaridade homem versus mulher?

Quando utilizo LGBTQ, utilizo como inclusão totalitária. LGBT é por política, se pensarmos em tudo o que conquistamos até aqui, tudo é pelo LGBT, mas o LGBT não me satisfaz mais. O acréscimo do “Q”, que representa a teoria Queer é por acreditar que precisamos representar todas as perspectivas envoltas em sexualidade e gênero. Ainda utilizamos da binaridade de gênero porque é o que fomos condicionados a acreditar, e isso não é mais o suficiente. O mundo a nosso redor está mudando, precisamos acompanhar esta mudança, nos unir em algo que represente a todos. Não podemos lutar contra a invisibilidade e opressão, invisibilizando e oprimindo direta ou indiretamente outra classe, não representar a total diversidade no LGBT também é invisibilizar. O nosso futuro precisa ser Queer.


Tomás Trevisan, mulher transgênera, vice-presidente do Coletivo Nosso Corpo Nossa Arte BG.

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