a sigla B
- Décio Vieira
- 12 de jul. de 2017
- 2 min de leitura
A bissexualidade é constantemente apagada e esquecida entre as outras siglas do LGBT, não é debatido sobre o preconceito do qual os bissexuais sofrem, que se difere muitas vezes do preconceito para com as lésbicas e os gays, são outras falas e estereótipos, muitos por sinal.
Assim como a sociedade heteronormativa invalida a homossexualidade, com o discurso de que não é natural e ninguém nasce assim, é uma escolha, os bissexuais também sofrem essa invalidação de sua sexualidade, inclusive de gays e lésbicas, é como se, por exemplo, uma mulher bissexual não fosse verdadeiramente bissexual, ou ela diz sentir-se atraída por homens para agradar a sociedade, mas na verdade é lésbica, ou, ela diz sentir-se atraída por mulheres apenas para chamar atenção, mas na realidade é heterossexual. Sentir atração por ambos está fora de questão. Esse é um pensamento de muitos, e representa bem o quanto essa sexualidade é pouco levada a sério. É importante desconstruir outros pré-conceitos como:
“A orientação sexual de alguém é definida de acordo com quem ela está em um relacionamento”. Não, o fato de um bissexual estar namorando alguém do gênero oposto não determina que então naquela relação ele passa a ser hetero, sua bissexualidade ainda fará parte de sua natureza e a pessoa continuará a sentir atração por pessoas do mesmo gênero, não estar se relacionando com um determinado gênero não anula sua atração pelo mesmo.
“Bissexuais são um tanto por cento homossexuais e outro tanto por cento heterossexuais”. Bissexuais são bissexuais, e ponto. A intensidade que cada bissexual se vê interessado por um gênero é de sua individualidade e não dita qual orientação essa pessoa tem como “principal”, é preciso parar de querer enquadrá-los ao molde hetero/homo.
“Pessoas bissexuais são safados e querem pegar todo mundo”. Independentemente de qualquer coisa, o fato de alguém gostar de ambos os sexos não significa que irá desejar a todos, até porque as pessoas têm suas preferências, suas próprias seletividades. E remeter a bissexualidade a “safadeza” e “promiscuidade”, é ser antiquado, primeiro porque todos são donos da sua própria sexualidade e explorá-la não torna ninguém promíscuo, e segundo que, bissexualidade não é apenas sobre sexo.
“Bissexuais não são fiéis”. Ser fiel não tem nenhuma relação com orientação sexual, e qualquer um pode ser ou não, já pensou como essa afirmação é sem sentido?
“Bissexuais só querem relacionamentos abertos”. Há essa ideia de que se você é bissexual, não vai conseguir controlar seu desejo por um sexo oposto ao que está se relacionando, então precisa entrar em relacionamentos poligâmicos, e isso é ignorância, quando namoramos nossa capacidade de nos sentirmos atraídos por outras pessoas desaparece? Não, porque nosso corpo não funciona dessa maneira, mas isso não significa que iremos agir com infidelidade, manter uma relação monogâmica só depende da sua vontade e visão de como se sente contemplado em um relacionamento, a poligamia é encontrada entre todas as orientações sexuais.
Praticar esses estereótipos, entre outros, é destrutivo e deslegitima a existência e sexualidade alheia. A bifobia é tão problemática e necessária ser discutida quanto qualquer outra fobia, precisamos de mais visibilidade a sigla B, e nunca esquecermos, bissexuais são tão LGBT’s quanto outros e também sofrem com a LGBTfobia.
Décio Vieira é membro voluntário da ONG Identidade LGBT - núcleo jovem

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