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‘’Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher’’

  • Júlio Cassagrande
  • 11 de jul. de 2017
  • 2 min de leitura

Há algumas semanas atrás, eu ouvi uma música do Caetano Veloso, chamada Tigresa, que continha em suas estrofes a mesma frase que intitula essa coluna, desde então, essa frase vem martelando-me os pensamentos e me causando longas seções de reflexão sobre.


Ao tentar aprofundar-me no significado concreto do verso, o real sentido do mesmo logo se mostrou para mim, sem qualquer dificuldade. Mas o tamanho do ‘problema’ que ele demonstra é incrivelmente maior do que se pode imaginar.


Afirmar que com alguns homens uma mulher foi feliz, e que com outros foi somente mulher, já cria de cara um duplo sentido para a palavra mulher, um sentido que vai muito além dos que são empregados atualmente por boa parte da nossa sociedade, seja o sentindo mais ‘’conservador’’ de ligar o gênero ao sexo ou o sentindo mais ‘’revolucionário’’ de ligar o gênero não só a feminilidade/masculinidade, mas também a uma identidade maior que isso.


A situação criada em cima dessa frase, no meu ponto de vista, é uma crítica forte a visão de felicidade, do que é a felicidade e de como se deve alcançar a felicidade, que nós, como sociedade, passamos para as nossas crianças, especialmente para as meninas.


A ideia de felicidade feminina que é passada para as meninas, seja pela TV, pelos pais ou até mesmo pela escola, sempre liga a felicidade concreta a um núcleo familiar, heterossexual, onde o homem trabalha e a mulher cuida da casa e por consequência também, das crianças. Essa visão de felicidade idealizada que nós ensinamos para as garotas acaba por condicionar a felicidade delas a somente isso. Veja bem, não há nada de errado em se sentir feliz sendo dona de casa, mas há muita coisa errada em ensinar a todas as garotas, que o final feliz delas só será realmente feliz se acabar assim.


Enquanto ensinarmos as meninas a cuidar de crianças, lavar a louça, cozinhar e cuidar da casa, nós estaremos criando um ‘’lugar’’ para elas, condicionando elas, e por consequência a felicidade delas, aos serviços domésticos. O grande problema, além de ensinar algo tão tóxico para elas, é que nós não ensinamos eles, da mesma forma. Os meninos são ensinados a almejar a liberdade e o sucesso profissional e econômico, a felicidade deles não está condicionada a subordinação e submissão, sendo assim, automaticamente criam-se papeis que são definidos de acordo com o sexo de alguém, e que na situação concreta, acabam por não se encaixar completamente com ninguém.


Portanto, com alguns homens, a tigresa foi feliz, viveu, sonhou e foi livre, mas com outros, ela foi obrigada a seguir o ideal feminino que nós ensinamos a todas as mulheres almejarem. Mesmo que ele simplesmente não seja nenhum pouco compatível com várias delas.

Júlio César Cassagrande é voluntário da Ong Identidade LGBT- núcleo Jovem

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